quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dissolvendo

Fui atingida.

Meu olhar se perde na indecifrável neblina dos sentimentos, sinto como se meu coração derretesse lá dentro, transformando-se num líquido quente que escorre e envolve tudo em mim.

Apago as luzes, deito sobre o chão sentindo a minha forma se perder no silêncio que agora se expande de dentro para fora. As sensações se confundem, é um calor, é um dissolver.

Tudo o que me martelava á instantes atrás simplesmente virou nada.

Os pensamentos se perdem das sinapses, o padrão perde o sentido. As letras, as frases, os textos, as obrigações, as expectativas , o dia após dia, o roteiro que guia a rotina, vejo tudo isso perder a solidez que antes os fazia vivos e constantes em minha mente.

As dores latejam, se manifestam livrando-se das garras da repressão. E elas querem me dizer algo. Eu sei que querem.

-Chega, chega, chega.

Agora as escuto, elas suplicam pelo fim de tudo o que me faz mal.

Chega? Mas tudo pra mim mal começou... E eu já nem agüento mais?

Penso nas pessoas, penso em todas as pessoas, suas dores gritando pelo mesmo fim. São gritos abafados sob quilos e quilos de obrigações, toneladas de erros, culpas e vontades reprimidas. O choro parece inevitável, é solidariedade, pena, não sei, talvez uma profunda identificação com tudo o que as prende. São as leis dos homens atando suas próprias mãos, oprimindo-nos assim como os negros um dia foram oprimidos. Levantamos castelos, levantamos muros, rocha sobre rocha, todos os dias nos sacrificando, nos mutilando, levando chicotadas, para então ali nos isolarmos. A solidão é a penitência por não termos nos manifestado. Não queremos viver cercados por paredes impregnadas de dor, mas não vemos escolhas e nos entregamos.

E falo por nós, porque eu e você carregamos a humanidade na alma, e carregamos todas suas escolhas nas costas. Alienarmos-nos dessas escolhas é negarmos a nós mesmos, é fechar os olhos para o que constitui a base de nossa – pseudo - individualidade.

Queria que isso fizesse mais sentido do que lendo superficialmente parece fazer. Porque são palavras que fluem e o que é espontâneo, acredito, tem muito mais sentido e verdade do que pensamentos formulados, estruturados, revisados, organizados.

Desejaria que todos agora sentissem seus corações derreterem, que deixassem suas resistências caírem junto com tudo o que tem lógica e que se julga necessário. Que deitassem todos no chão da vida, e para arrebentar essas amarras emboloradas que tanto nos fazem mal, que permitissem o calor e o silêncio enfim se expandirem.

Acredito que eles têm muito a nos mostrar e querem muito o fazer...

7 comentários:

  1. Nossa,belo texto! Eu viajo lendo seus textos,são muito perfeitos... Essa forma como voce escreve é muito única! :D

    PARABENS!

    Um abraço :)

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  2. Muiiitoo bom o texto Carol... Adoreii...Obrigada pela visita viu..

    Beijão

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  3. Você usa e abusa do abstrato e do surreal, de forma que, até para mim - um leitor assíduo - às vezes é difícil acompanhar todo o seu raciocínio. Longe de isto ser ruim, obviamente. Leituras mais pesadas no conteúdo são divertidas e carregam uma grande mensagem sempre. E essa não foi diferente. Compreendi em partes, ou pelo menos, seu texto me deu a minha forma de formulá-lo, e assim, sua mensagem. Acho que o reli umas 3 vezes antes de estar, aqui comentando.

    A forma com a qual você explode suas emoções é realmente, peculiar. Peculiar e não-uniforme. Eu mesmo não conseguiria fazer nada num mesmo parâmetro, muito provavelmente. Então, deixo apenas aqui o fragmento que mais me interessou: "E falo por nós, porque eu e você carregamos a humanidade na alma, e carregamos todas suas escolhas nas costas." Afinal de contas, o que fazemos ou deixamos de fazer pode realmente alterar muita coisa em muitos lugares, não? Hahaha.

    Estou seguindo.

    Atenciosamente, Tadashi Katsuren.
    Contos e poemas, escritos por mim, em:
    let-me-fly-with-you.blogspot.com

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  4. Adorei o texto, Carol! É como se sua mente estivesse cansada e você deixasse os seus pensamentos fluírem sobre você mesma, eu me vi dentro do texto! É realmente muito bom quando você pode sentir o que alguém escreve e é isso que tento fazer ao escrever, tento descrever os sentimentos da melhor forma possível, para que quando alguém ler, este possa não apenas absorver palavras, mas sentir a essência delas!
    beejo. ;*

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  5. Adorei seu texto por que é um texto "LIVRE", na falta de uma palavra melhor. Espontâneo, sabe? Ele transborda de sentimento em forma pura, sem muitas amarras para que tenha uma lógica ou um sentido objetivo. Às vezes eu queria escrever assim, mais solto. E adorei o seu comentário no meu blog. Me fez pensar em certas coisas. Quanto ao Carlos Castañeda eu li um livro dele uma vez no meu colégio, só que não lembro o nome. Achei legal, mas era o único dele que tinha lá. Acho que nome era "A outra" ou algo assim. Sei que o livro era uma viagem. sahushaushaus Mas as coisas que ele contava de certa forma me seduziam um pouco. Sempre tive vontade de vivenciar coisas mais "sobrenaturais", de transcender a percepção limitada que tenho do mundo. Vou ver se encontro em Sebo algum livro dele, pq tb não consigo ler nada muito longo no computador. Abração!

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  6. Agora que vi, parece que eu disse que seu texto não está inteligível, mas ele está. Nas verdade eu quis falar do seu estilo, que me pareceu algo mais livre e solto do o meu. Espero que tenha entendido o que eu quis dizer.

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  7. Achei o nome do livro que li, lá no site que você me deu. Nada a ver com A Outra, não sei de onde tirei isso. O nome é O Segundo Círculo do Poder.

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