quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um convite ao vômito


Gostaria de poder abrir todas as gavetas de minha memória, e pasta por pasta folhear todos os registros de minhas lembranças, detalhe por detalhe, degustar todos os segundos que se passaram, do primeiro dia, até o dia em que aqui estou. E VOMITAR TUDO EM SEGUIDA.

Impensável seria o dia em que nada mais estivesse oculto no esquecimento. Que mais nenhuma ação fosse provocada por qualquer motivo escondido no obscuro inconsciente. Não haveria então conflitos e arrependimentos, apenas escolhas totalmente conscientes. Na mente haveria o brilho, calor e a clareza de um sol, e não mais essas lâmpadas que tão fáceis se queimam. Haveria força e lucidez suficientes para enfrentar todas as conseqüências e todos os imprevistos, sem fraquejar, sem lamentar, e sem por medo chorar.

Belo seria o dia em que livres fôssemos, livres de nós mesmos. O passado seria apenas um filme, sem mais a força que nos prende, seja pelo riso, ou pela dor. Não, não seríamos sacos vazios. Seríamos balões cheios de ar, ar cheio de vida, vida cheia de graça. Enfim abertos aos mistérios do universo, com quantas incríveis descobertas não nos deliciaríamos? E quantas delas não nos mudariam, talvez até, por completo?
Não, não deixaríamos de amar as pessoas. Aliás, amaríamos mais! Nosso elo seria a liberdade, o amor que o momento pode despertar, ou, o momento que o amor pode despertar. Conceitos, expectativas e ressentimentos, ilusões que o vento levaria embora junto com nossos insensatos apegos.

Livrando-se do peso, enchendo-se de ar. Enfim saberíamos como voar! Então, por que não? Vamos vomitar...