quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Veneno


Enquanto você fala, quase não ouço.

Perco-me em seus olhos confusos, aprisionados.
Assusto-me com o veneno escuro e viscoso de suas palavras,
transbordando de sua boca,
corroendo seus lábios,
escorrendo em sua pele,
precipitando de sua face.
Face distorcida pelos sentimentos amargurados...

Vejo esse veneno medonho alcançar o chão,
E espalhar-se por toda extensão
Vem em minha direção.

Quero correr,
Quero proteger meu coração.
Mas parece ser tarde, ele me pegou!
Começo a sentir ódio,
Agora também quero falar, quero vomitar,
Vomitar todo mal em cima de você.

Sinto o veneno transbordar em mim
Palavras saem como lanças
Meus lábios... Ardem.

Mas o sangue aqui dentro jorra violento contra as veias
Está lutando contra o veneno que quer tomar-lhe o lugar
E no seu louco pulsar, em desespero ele grita para mim:
- Não, não, não... Pare, pare!

E então... Eu o ouço.
Largo as pedras.Desmancho.
Abaixo a cabeça, aceito.

Fere, fere meu ego,
mas não meu coração!

domingo, 29 de maio de 2011

Contra o vento

A vida corre na velocidade do vento,
Sai arrastando tudo e rearrumando ao seu modo.
Somos poeira no vento,
Oscilando em incertos caminhos,
Passamos por tudo, mas a nada podendo nos agarrar...

Perdas, conquistas;
Quantas delas ainda nos entregaremos?
Quantos altos e quantos baixos serão necessário
Para perceber
O que agora
Não somos capazes de compreender...

Voa voa pássaro
Investe contra vento
Esvaem-se todas suas forças
Até perceber que apesar de tudo
Seu pequeno corpo não saiu do lugar...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um convite ao vômito


Gostaria de poder abrir todas as gavetas de minha memória, e pasta por pasta folhear todos os registros de minhas lembranças, detalhe por detalhe, degustar todos os segundos que se passaram, do primeiro dia, até o dia em que aqui estou. E VOMITAR TUDO EM SEGUIDA.

Impensável seria o dia em que nada mais estivesse oculto no esquecimento. Que mais nenhuma ação fosse provocada por qualquer motivo escondido no obscuro inconsciente. Não haveria então conflitos e arrependimentos, apenas escolhas totalmente conscientes. Na mente haveria o brilho, calor e a clareza de um sol, e não mais essas lâmpadas que tão fáceis se queimam. Haveria força e lucidez suficientes para enfrentar todas as conseqüências e todos os imprevistos, sem fraquejar, sem lamentar, e sem por medo chorar.

Belo seria o dia em que livres fôssemos, livres de nós mesmos. O passado seria apenas um filme, sem mais a força que nos prende, seja pelo riso, ou pela dor. Não, não seríamos sacos vazios. Seríamos balões cheios de ar, ar cheio de vida, vida cheia de graça. Enfim abertos aos mistérios do universo, com quantas incríveis descobertas não nos deliciaríamos? E quantas delas não nos mudariam, talvez até, por completo?
Não, não deixaríamos de amar as pessoas. Aliás, amaríamos mais! Nosso elo seria a liberdade, o amor que o momento pode despertar, ou, o momento que o amor pode despertar. Conceitos, expectativas e ressentimentos, ilusões que o vento levaria embora junto com nossos insensatos apegos.

Livrando-se do peso, enchendo-se de ar. Enfim saberíamos como voar! Então, por que não? Vamos vomitar...