quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O contorno das pedras e a queda



Na cidade avermelhada, a rua que caminho em sonho tem um cheiro doce.
Doce que vem das flores... Tão pequeninas flores! Pintam as copas das árvores das quais nascem e em seguida caem aos montes, se ajeitando de tal forma no chão que terminam adornando de amarelo o contorno das pedras na calçada.
Caminho sobre essa calçada, compondo com meus pés azuis mais algumas cenas curiosas. Divirto-me por alguns instantes com isso!
Então o chão parece ter vida e como um ser que acorda de um sono muito longo e profundo, vibra e se contorce todo. As pedras se desfazem estalando sons que não consigo entender, canções que mais parecem bocejos, grunhidos, risos e gritos! Arranham meus ouvidos! Fecho-os com as mãos e busco me afastar, mas sem chão, o que podem meus pés azuis? Se não sapatear desorientados no ar e em seguida comigo cair...cair...e cair num completo escuro, que ecoando risos diz ele sarcástico nunca mais ter fim.
Deixo que assim seja e a cidade vermelha junto com a rua cheirosa ficam para trás com alguma lembrança de flores amarelas que já me escorregou no decorrer do cair.
E muitas outras memórias vão se largando de mim, muitas outras histórias vão sem recriando sem pudor, muitas identidades vão se revelando, se despedindo e em seguida tornando a me encontrar.
E eu que já me perdi no breu, nem ouso pensar, tudo passa como um filme, ou uma história contada que fala sobre ninguém e sobre lugar nenhum.
As vezes, de repente, sinto aquele cheiro doce! E isso me faz lembrar que tudo é sonho. É sonho torto, é só um sonho...
Sempre foi e talvez sempre será...Uma queda sem fim.