segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vento


Tentava estudar, escrevia, escrevia, copiava, definia, anotava observações, linhas, entrelinhas.
Mas uma estranha sensação de vazio, um encômodo pertinente dentro de si a impedia de dar o máximo de si para compreender os ditames acadêmicos. Sua mente tentava se concetrar, mas seu coração estava distante.
Era como um buraco negro.

Aquele sentimento lhe trouxe uma tristeza estranha que lhe fez perceber aos poucos o quanto inúteis eram as classificações, definições e decorebas de todo o dia.
A luz do computador ja encomodava a vista e lhe dava enjoo.
A cortina esvoaçava violenta, rechicotiando contra o ar e contra a janela, ar , janela...

Um ser envolvente urrava do lado de fora.
Movimentava tudo o que estava parado; as árvores dançavam, os cabelos alheios esvoaçavam para todos os lados, papeis alçando voo, levanta-se o pó.

Era o vento.

Ele a chamava, ela sentia isso, ela sabia.
Há muito tempo sentia, mas achou que boicotar era o mais prático, não queria embarcar em tolices que nao a levariam a lugar nenhum.
Ela tinha que estudar, se formar.

Mas o Vento incansavelmente a chamava.

- Chama, chama...- repetia ela como uma voz incômoda que ecoava em sua cabeça.

Promete arrancar tudo ao redor e levar embora, se ela não for vê-lo.

-Ah, suspirou desanimada, chega de resistir.

Aquele buraco a tomava por dentro ja havia tanto tempo, parecia eterno, estava cansada de lutar contra isso. Que sucumbisse então, pensava melancólica.

-Chega...

Enfim se levanta, larga os papéis, larga as canetas, o brilho da tela, classificações e definições.

Caminha vazia até a porta, destranca, abre-a .

A claridade entra. Não há sol. Há nuvens escuras, vento forte e tudo ao redor fora do lugar. Ela se joga, se entrega com a devoção de uma suicida.
Uma rajada de ar a invade, forte e implacável.
Não há mais resistências.
Então um turbulhão se instala e movimenta todo seu ser, limpa sua mente; e seu corpo, sem peso, flutua...
Depois, o vento se acalma, as nuvens se dissipam e tudo volta em seu lugar.

A tristeza vira calma.

Agora ela entende, sente enfim, que não há nenhum buraco negro.
Há sim um vazio, dizendo o tempo todo para seu coração distraido, que toda ela era isso: esse turbilhão e esse silêncio.

E que se quisesse podia viver um turbilhão no silêncio,

e encontrar o silêncio num turbulhão.

2 comentários:

  1. dá pra viver com um pouco de cada, ou dentro de cada coisa; fazendo essa mistura que dá graça e beleza pra vida.

    Gostei do texto!

    Abraço! =]

    ResponderExcluir