sábado, 3 de abril de 2010

Beleza perdida


No topo daquela árvore, há um animal perdido.

Ele chama pelos semelhantes com gritos ritmados, sons surdos metalizados, procura alguém com quem possa dividir a dor da solidão.

Os galhos balançam leves, empurrados pela brisa fria da manhã, uma manhã insensível para com os que estão desamparados.

As folhas cintilam frenéticas, embaladas pelo canto mecânico do tucano solitário.

Em torno se reúnem passarinhos, pequenos pardais, que, em muros, antenas e galhos, acompanham com expectativa, distantes e curiosos o ritual miserável, daquele pobre deslocado.

No silêncio de sua insignificância, esses pequenos alados agora se deliciam ao presenciar uma ave grande, de cores e bico imponente - dessas que vivem exibindo sua beleza em vôos altos e coletivos - se lamentar durante horas o infortúnio de isolar-se em sua própria espécie, em sua própria exuberância. Pois agora se encontra perdido do bando em terra estranha e sequer pode pedir ajuda aos reles e insonssos pardais; já que estes,por conta de sua simplicidade vulgar, nunca foram dignos de relacionar-se com as belas aves.

Impotente, só lhe resta ganir rasgado na esperança de que algum outro distante tucano egoísta ouça sua súplica triste e orgulhosa.

‘Não há nada que sua beleza possa fazer para te ajudar agora, não é?’ pensam com malicia os recalcados passarinhos marrom-sem-graça.

Certo estão eles, pássaro cego, esse que, na sua prepotência e arrogância, acha que vai se salvar.

Tolo.

Mal sabe ele que seu canto e beleza que tanto o elevou no pedestal do seu ego, agora está atraindo a atenção de homens gananciosos, os quais preparam-se para capturar e jogar a ingênua ave na gaiola fria de seu triste destino...

Pobre ave, que futuramente cantará sem vida afundando-se sem esperança preso no viveiro de algum estranho.

Ou, empalhado , enfim, em um verdadeiro pedestal, será admirado de relance por um ou outro que por ali passar...

...Sem nunca mais cantar...


Ah tucaninho,



os pardais bem que sabiam;



a beleza fez sua caveira !

Nenhum comentário:

Postar um comentário