terça-feira, 11 de agosto de 2009

Na saúde e na doença.




Segurava a presilha de cabelo fervorosamente. Estava enlouquecendo de raiva. Envergava a presilha para um lado:"Tic!" Envergava para o outro:"Tac!"E continuava repetindo os movimentos, a torcendo freneticamente:"Tic! Tac! Tic! Tac..."
O barulho impertinente se misturava e se confundia com o mesmo barulho do relógio, esse, já no ritmo mais acelerado dos segundos.Aquilo irritaria qualquer um que já estivesse aflito, mas a ela já não afetava mais. Sua atenção não estava mais em coisas ao redor, estava longe, focalizada em seus sentimentos rancorosos:
-Maldito! Maldito! Maldito!
Ficaria ali até o amanhecer, degustando o amargo gosto do ódio, repetindo para si mesma os mesmos xingamentos, rangendo os dentes e entortando a presilha. Quase todos seus dias eram assim, remoia suas eternas decepções maquinalmente, desde as adquirida ao longo de seu casamento frustrado até aquelas que já nem sabia mais do que se tratavam.Despertou do transe num ímpeto, ao ouvir os passos trôpegos na varanda.
-Maldito!
Como uma onça em ataque, deu rápidas e ferozes passadas até a porta e a puxou abrindo-a bruscamente, quase arrebentou o trinco como fizera nas outras noites.O pobre homem foi puxado para dentro e espatifou-se escancaradamente sobre o chão. Murmurou algumas palavras arrastadas de dor e esforçou-se para levantar-se. Estava totalmente bêbado. Quando finalmente esteve em pé, desequilibrou-se e ameaçou a cair novamente, antes que pudesse a mulher agarrou-o pela gola da blusa e arrastou furiosamente pela casa.
-Seu nojento! Seu fraco! Seu... Seu MALDITO!!
-Maldita é você! Me laargaa sua vaca malucaa!
Gritavam os dois no meio da madrugada. O homem debateu-se no chão e a mulher já não pode mais agüentar o peso do marido. Largou-o. Mole e descoordenado agarrou-se nos móveis para estar de pé novamente. Quis mostrar comando e levantou a mão, na intenção de batê-la, tentou, mas não conseguiu, seus movimentos eram lentos e pesados, enquanto a mulher mexia-se como uma fera.
- Ridículo! Mal consegue abrir os olhos seu idiota! Eu é que mereço te bater! Por todos esses anos horríveis que tem feito me passar! Amaldiçoou minha vida seu desgraçado!
-Você que amaldiçoou a minha, parasita!
-Maldito!!
Gritou avançando para cima. Socou-o com as duas mãos, tomada pelo desprezo e pela raiva. Os dois rolaram e se machucaram pelo chão da cozinha, e quando ambos estavam esgotados e moídos, a mulher alcançou a faca de açougue em cima da pia, mas não teve forças o suficiente para cravá-la contra o peito do marido. Então, caiu sobre ele, desmaiando com a faca na mão. E os dois permaneceram ali, dormindo juntos. Unidos pelo matrimônio, na saúde e na doença...

2 comentários:

  1. Aí... que meda!
    Isso ñ aconteceu de verdade não, né?

    Tô te seguindo!

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  2. hahaha
    Olhe, já vi brigas assim, que só a parte da tentativa de homícidio eu diria que é um pouco de exagero. Mas já ouvi histórias de vizinhos muito semelhantes hehe
    Casamento pode levar a loucura -.-
    Valeu! ^^

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