terça-feira, 11 de agosto de 2009

Chapéu de palha


Um chapéu de palha jogado na beira da praia. O homem agachou-se para apanhá-lo. Estava bem cuidado, mas aparentava ser velho. Um tanto feminino, mas não se importou de vesti-lo; por pouco a onda não o levara, ainda estava seco, embora meio sujo de areia. Deduziu ter sido arrancado da cabeça de alguma mulher que andava pelas proximidades, a custa da força do vento. Estava um dia escuro, nublado, frio e com fortes rajadas de ventos, de longe era o único caminhando pela praia. A moça, dona do chapéu de palha devia estar andando por ali à pouco tempo. Era loura. Achou preso entre os fiapos soltos, dois fios de cabelos louros. Teve a idéia louca de procurá-la, talvez a achasse a poucos metros dali. Assim devolveria o chapéu perdido, poderia ser importante para ela. Foi pensamento de instantes, logo o achou idiota. Não poderia sair perguntando para todas as moças louras que encontrasse se reconheciam o chapéu.Ou poderia...Quem sabe, quando a visse, mesmo que ela estivesse ao longe, de costas, com um longo vestido branco( como a imaginava), a reconheceria e pensaria: é ela. Então ainda no mesmo dia, apaixonados se casariam, porque sentiria que era a mulher de sua vida, e ele o homem da vida dela. E ela seria maravilhosamente linda.Aquela certeza descabida fez com que retomasse as esperanças e começasse a correr com a intenção de alcançá-la, seja a onde estivesse. Deu uns vintes passos largos e desesperados ao encontro da mulher de sua vida, com quem teria seus mais lindos filhos, uns dez passos tortos e receosos de sua decisão, e mais cinco passos finais, certos de que não a encontraria. Parou. Desistiu. Esteve um longo momento estacionado com pose de fracasso, julgando a si mesmo ridículo. Tirou o chapéu de palha da cabeça e jogou-o ao vento, juntamente com todo seu romantismo. Mudou a direção e voltou a caminhar, desta vez em direção a cidade. Já estava tarde e precisava a voltar trabalhar.Minutos depois uma moça de longos cabelos louros achou seu amado chapéu caído sobre a areia. Abaixou-se e recolheu-o junto ao peito aliviado. O ganhara há anos e lhe era muito importante. Pensou que alguém o devia ter apanhado a alguns metros antes, caminhado com ele e em seguida jogado ele ali, a julgar pela distancia em que foi o achar. Ainda teve tempo de avistar a silhueta de um homem indo em direção à cidade e depois sumir-se no cinza dos prédios. Talvez fosse aquele homem estranho quem o tivesse achado. Ou talvez, fosse apenas obra do vento.Vestiu-o e voltou, refazendo o caminho percorrido na busca do chapéu. Seus cabelos louros esvoaçavam-se, seu longo vestido branco também. Sim, era inegavelmente linda.

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