domingo, 16 de novembro de 2014

Menino

Noite chuvosa e lá vem o garoto mirrado, descalço e sem camisa, rompendo o som da chuva com os galopes do seu cavalo marrom. Ele atravessa a praça iluminada e avança nas antigas ruas de paralelepípedos da pequena Antonina. Segue veloz cidade à dentro, compondo uma cena linda junto com as ruas molhadas que refletem as luzes brancas, amarelas e laranjas dos postes.
Quanta força num ser tão pequeno, que com seus poucos anos apunha o arreio com a segurança de um homem! Todo encharcado deixa seu pequeno corpo sacudir abandonado enquanto seu parceiro corre parecendo estar gostando tanto quanto o menino desse momento de desbravamento e liberdade.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sábado

Caminhando sem lugar a qual chegar, paramos para conversar. Sentamos sobre grandes rochas, coração se abrindo, emoções sob a garoa. Guarda-chuva, amizade, proteção. Campo aberto à frente, o vento fazendo o capim plumoso dançar. Dos arbustos às árvores, a natureza cintilava sua beleza, sua verdade e força. E nós, mesmo ali no topo, tão frágeis.
Era um sábado nublado, e bonito.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Sonho

Obrigada por me acordar devagar, essa música...Que suave.
Lembro do sonho, estava em um precipício, e as ondas quebravam intensas no costão lá em baixo. Havia alguém sentado numa das pedras, firme e sereno em meio a violência do mar. Sua voz ecoava na minha mente antes mesmo de vê-lo. Seu olhar atravessou a distância do mar com o topo do precipício e me encontrou - profundo,misterioso, indecifrável - estremeci, eram olhos azuis ou prateados, mas frios.
Permanecia sentado e me fixava. Então mergulhei em águas estranhas, ondas rolavam sobre mim, muitas imagens e cores, conhecimentos turvos e uma sabedoria codificada se apresentava.
Sua voz ecoava na minha mente...Ou era a música?
Três segundos se passaram, não lembro mais o que sonhei hoje. Era algo com mar...
Mas que bom que me acordou assim devagar...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O contorno das pedras e a queda



Na cidade avermelhada, a rua que caminho em sonho tem um cheiro doce.
Doce que vem das flores... Tão pequeninas flores! Pintam as copas das árvores das quais nascem e em seguida caem aos montes, se ajeitando de tal forma no chão que terminam adornando de amarelo o contorno das pedras na calçada.
Caminho sobre essa calçada, compondo com meus pés azuis mais algumas cenas curiosas. Divirto-me por alguns instantes com isso!
Então o chão parece ter vida e como um ser que acorda de um sono muito longo e profundo, vibra e se contorce todo. As pedras se desfazem estalando sons que não consigo entender, canções que mais parecem bocejos, grunhidos, risos e gritos! Arranham meus ouvidos! Fecho-os com as mãos e busco me afastar, mas sem chão, o que podem meus pés azuis? Se não sapatear desorientados no ar e em seguida comigo cair...cair...e cair num completo escuro, que ecoando risos diz ele sarcástico nunca mais ter fim.
Deixo que assim seja e a cidade vermelha junto com a rua cheirosa ficam para trás com alguma lembrança de flores amarelas que já me escorregou no decorrer do cair.
E muitas outras memórias vão se largando de mim, muitas outras histórias vão sem recriando sem pudor, muitas identidades vão se revelando, se despedindo e em seguida tornando a me encontrar.
E eu que já me perdi no breu, nem ouso pensar, tudo passa como um filme, ou uma história contada que fala sobre ninguém e sobre lugar nenhum.
As vezes, de repente, sinto aquele cheiro doce! E isso me faz lembrar que tudo é sonho. É sonho torto, é só um sonho...
Sempre foi e talvez sempre será...Uma queda sem fim.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Terra viva

Centelhas do meu coração
palpitam entre as folhas úmidas
em meio à troncos e raízes
bebendo na terra viva

a doce seiva do sol
Registro em um dia lindo da linda plantinha chamada Centella asiática

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Fracasso

Fracassei. Fracassei com gente que só quis o bem. Fracassei com animaizinhos que não soube cuidar. Fracassei com plantas que esqueci de regar. Fracassei comigo mesma quando calei querendo falar. Fracassei quando corri da chuva não querendo me molhar. Fracassei quando fiz fechar o tempo não vendo o sol lá brilhar. Fracassei quando esperei demais e quando não esperei ninguém. Fracassei quando não soube amar. Fracassei quando amei. Fracassei com medo de errar. Fracassei quando errei. Fracassei quando pensei demais. Fracassei quando senti demais. Fracassei quando não saí daqui e também quando fiz a mala e fugi. Fracassei para todos os lados, acima e abaixo. Fracassei sem medo e com toda vontade de fracassar.

domingo, 31 de março de 2013

Amanhecer

Nasce o sol dando luz ao calor.
Suspira, geme e grita a vida parindo seus filhos a cada manhã.
Restam pedacinhos sob o lençol que ainda dormem, escondidos nas dobras do sono partido.
Parte do mundo,parte minha que parte de mim.
Enquanto os olhos abrem, cabem infinitos nesta fração de segundo.
Vejo meus irmãos chegando, vejo eles partindo...Lembranças de últimos olhares, gestos de carinho.
Onde estão? Talvez nas dobras ainda dormindo.
Mãe, Pai, mergulhados na terra e no céu, tão distantes por vezes que faltam...O afago da natureza e o chamado discreto de algo além.
Nesta fração de segundo a luz entra rasgando os devaneios e o marasmo do quarto noturno.
A manhã estica os bracinhos, se espreguiça, boceja e sorri. Conduzindo com malícia o novo dia de buscas, partidas e chegadas.